A “Navalha de Ockham” e a dissolução da metafísica tradicional

05/02/2020

Nascido na aldeia de Ockham próximo a Londres, aproximadamente no ano de 1280, Guilherme desenvolveu um preceito metodológico que teve fecundas conseqüências para filosofia posterior. Com esse caráter metodológico Guilherme de Ockham dá lugar a um novo paradigma científico, negando toda metafísica tradicional. Além disso, a separação dos tipos de conhecimento leva a uma negação de toda tradição medieval que se pautava na união entre filosofia e teologia. Contrário a metafísica platônica e os elementos platônicos presentes na filosofia de Aristóteles formulou um enunciado definido como Navalha de Ockham, que diz: "Não se multipliquem os entes se não for necessário". Esse enunciado abre caminho para um modelo de conhecimento advindo do próprio homem, não necessitando de fatores divinos para tal. Com isso Guilherme configura uma metodologia que mais tarde ficou conhecida como rejeição das "hispóteses ad hoc[1]".

A Navalha de Ockham consiste basicamente em eliminar todos os excessos possíveis, criando assim uma ciência (ainda que não moderna) medieval, que obviamente é um prelúdio para física moderna. Com a "Navalha" encerra-se um período e inicia-se outro em que os paradigmas medievais são vistos como inconsistentes. Além disso, há no método de Ockham toda uma negação dos modelos de Platão e Aristóteles. O modelo platônico que hierarquiza o universo em mundo inteligível enquanto modelo para o mundo sensível é deixado de lado. No lugar entra um universo homogêneo em que as coisas podem ser conhecidas pela via empírica. Por esse motivo não só o modelo platônico é deixado de lado, mas o modelo hierarquizado que Aristóteles. Claramente a multiplicidade dá lugar à homogeneidade dos entes em face de uma "economia" da razão, que tende a excluir do mundo e da ciência os entes e conceitos supérfluos, a começar pelos entes e conceitos metafísicos.

Pode-se perceber que através de Ockham não só no que toca a epistemologia, mas também a política, uma aspiração à reforma, que se acentuaria ainda mais no século seguinte, até culminar na Reforma protestante. Com Ockham, a escolástica encontra seu ápice, pois depois dele, não surgiram maiores personalidades nem grandes sistemas filosóficos. O que ocorre é somente a existência de estudiosos de Ockham, de Aquino e Agostinho, de Escoto, disputando seus espaços por teorias já existentes. Diante dessas três outras correntes, Ockham surge como um crítico à tradição escolástica, impondo uma via moderna, contrapondo a toda tradição do pensamento medieval. A influencia e importância de Ockham, sua "Navalha" e conseqüentemente seu método científico preconizam a ciência moderna. Filósofos da ciência alegam a influencia sofrida por Galileu dizendo que "a genialidade de Galileu consiste na utilização que ele fez das possibilidades perspectivas tornadas disponíveis por mudanças de paradigmas ocorrida na Idade Média".

[1] Significa literalmente "para isto" ou "para esta finalidade". É quando há a adição de hipóteses estranhas com a finalidade de salvar uma teoria científica que possivelmente será falseada

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